24 dezembro 2014

Carta do Editor - Mês #7 Retrospecto


Passa o tempo e a vida passa. Este ano (2014), o Nossa Caixa cresceu bastante. Não em acessos, isto não importa muito. Decidimos discernir o que realmente queríamos e encarar com mais maturidade a construção das postagens.

A gente quer falar e ouvir, e isso, por si só, já é de um passo enorme. Tomar as rédeas de como nos percebemos e ajudar outros jovens a fazerem o mesmo. Tem muito jovem por aí de perspectiva retrógrada, mais por reprodução de discurso do que realmente por uma mentalidade que ele construiu. Tem jovem que acaba se perdendo em tanto conteúdo que se tem hoje em dia, já que a maioria desse tanto de conteúdo não tem nenhuma intenção de ser mais do que entretenimento ou informação. A gente quer combinar tudo que a gente gosta, cultura pop e conversas descontraídas, com um pensamento que possa guiar-nos para ser uma geração que tenha uma perspectiva nova do mundo, indo sempre além ao que já foi dito e repetido. (Vitor)

Não para trazer uma ótica sistematizada; não temos objetivo nenhum com isso. Visamos o questionamento, a relação do assunto com algo, falar o porquê que devemos nos preocupar com tal questão. Tratar do Brasil real, não do ilusório, maltratado e inútil. Ressaltar aquilo que se construiu e se constrói de belo no país, saber o “porquê não?” e porque há resistência em aceitar muitas coisas daqui. Abordar do mundo globalizado, do capital, do político. Mudar.

Logo no Começo, Coragem e Cultura, postávamos a todo vapor. Nosso tempo foi apertando e ficou difícil manter como antes, mesmo com os outros colunistas para nos ajudar. Porém, não deixamos passar um mês batido; esperamos que 2015 o tempo seja mais favorável.

Top 6 - Postagens Mais Vistas (de cada autor)
Carta do Editor - Mês #1 Começo Por Vitor Teixeira
Ghosts Stories Por Rodrigo Carvalho
Cinco Minutos - Romantismo de Início Por Thaís Barbosa
Dota vs League of Legends Por Antônio Bastos
Os Sertões e sua importância literária Por Caíque Carvalho
Nanotecnologia Por Dennis Coutinho

Começo. Coragem. Cultura. História. Responsabilidade. Litteris. Retrospecto.

30 novembro 2014

Playlist: Música Negra

A cor do novembro não importa, literatura com suas faces mais líricas e música afrobrasileira são contextos totalmente difusos. Acredito que a consciência tão aclamada está totalmente ligada à arte, pois vai além do simples ato de conscientização. Neste sentido, apresento-lhes nossa playlist, repleta de músicos que cantam sua cor como plenitude, misturado aos negócios culturais da atualidade e das trajetórias do tempo.

25 novembro 2014

Velha a mente, criança o espírito


"Os meus olhos já não são os mesmos de antes: uma borboleta é só uma borboleta, uma formiga é só uma formiga e uma poça de água é só uma poça de água. Saudade de quando tudo isso era poesia, tudo isso era mais belo e o sentido denotativo não importava tanto: as coisas eram o que eu queria que elas fossem. Talvez um dia meus olhos voltem a enxergar vitrais em cebolas, garotas chorosas em velas, lentes em gotas d’agua, janelas em olhares e coisa tal. Talvez um dia eu desaprenda minha velhice dos quase catorze e vá virar poeta e escrever sobre as coisas que os adultos de espírito não vêem, não sentem, não cheiram, não ouvem, não tocam. Não sei se vale a pena ser um adulto de espírito, ser elogiado pelo cargo, pela casa, pelos diplomas… Quero ser criança de espírito por toda minha existência, com palavras mal colocadas, caligrafia confusa e os olhos de poeta. Quando um espírito adulto enche os olhos, é porque estes viram ouro, belas jóias, roupas de grife e casas de praia. Quando um espírito de criança enche os olhos, é porque viu amor, palavras bonitas, pôr-do-sol, espuma do mar, flores de ipê. Quero estudar a sinuosa anatomia da minha alma e descobrir se o espírito que guardo nesse ser recheado de carbono é pueril e curioso ou adulto e saciável."

24 novembro 2014

A viagem que vi e reparei

Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.
(José Saramago)

Estou distante de tudo aquilo que chamam de civilização. Lugar que se deve, por obrigação, reconhecer as premissas dos Filósofos da Natureza, pensar em paz, harmonia e toda aquela história de contemplação que acaba sendo desimportante no dia-a-dia: Vale do Pati*.

Aqui não há meios de transportes, pelo menos que estejam disponíveis para uso pessoal. As cargas são transportadas em burros e mulas que precisam ser muito bravos para sustentar todas as regalias humanas. Energia apenas solar, nada de celular e internet. Demorei um dia todo para chegar. Esforcei-me para acordar antes das 5 horas da manhã e vim andando até depois das 12. Subi e desci morros, passei por rios, matas. Dentre as poucas casas que têm, fiquei instalado na mais próxima.

Aqui venta muito e, aliás, mesmo que não ventasse, valeria a pena ter nascido. Lembrando assim de Fernando Pessoa: “Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido”.

Desconfigurei a rotina; olhei bem para o chão, reparei as estrias da terra e a textura das rochas. Olhava para um lado e via um imenso paredão. Queria entender geologia para estudar melhor aquelas formas, saber sua origem e seu possível futuro. Porém, sem esforço analítico sei que são belíssimas, simplesmente porque são e não há quem conteste. Serras como estas estão por todo lugar. Formas, contrastes, sombras e impactos distintos. Há uma cachoeira que forma um funil, realmente muito impressionante, assim como aquelas pequenas quedas d’agua. Lembro que chamava isto de cachoeiras para formigas na minha infância. Quando subi o Morro do Castelo, aproximadamente 1.500 metros de altitude, percebi que estava num morro para humanos.

Tudo aqui é trilha. Nada é fácil, no entanto tem seu preço. Belo liquen encontrei numa rocha, bela forma a luz solar faz numa folha. Falando em folhas, lindas aquelas folhas secas que nem precisam de vida para impressionar.

Ah! e o sol... O feixe alaranjado de luz no branco acinzentado das rochas no topo das serras. Não acabava quando o sol se punha, formando o céu mais estrelado nunca visto antes. Identifiquei pelo menos o Cruzeiro do Sul, as Três Marias, típico de um ignorante em astronomia. Mas tenho o direito de me impressionar, querendo fotografar este mar de estrelas mesmo sabendo que no final a câmera não captaria nada.

Passei frio, mas nada que uma fogueira não resolvesse. A dualidade do poder do fogo de ora proteger e ora ser destruidor. Nem sempre me preocupei em estar contra o vento para não receber a fumaça. Além de ter me aquecido somente de um lado, tendo que virar às costas depois.

Não obstante, farei este processo de escrita da luz – mesmo que sem luz - fundindo na minha memória àquela paisagem e tantas outras que desconfiguraram meu olhar automático e superficial: a água, a terra, o vento e o fogo.

*Vale do Pati, Chapada Diamantina - Bahia