24 outubro 2014

Por que a grande vencedora dessa eleição foi a zueira

Desde o ano passado, por conta dos protestos que moveram o Brasil no meio do ano e como eles foram diretamente influenciados pela internet, muito se especula como seria a participação dessas mesmas ferramentas no período eleitoral. "Quero ver nas urnas", foi dito por muitos que descreditaram a integridade política daquele bando de gente vindo do Facebook - ou que ao menos tentaram. A participação da internet no processo eleitoral, claramente, nunca antes na história desse país foi tão ativa e construtiva, no sentido literal da palavra, mas em meio a tantas discussões pessoais e acusações, uma forma de expressão foi o grande destaque dessa eleição.



Antes quero dizer que por zueira eu não digo só memes, que de tão importantes alguns são até temas desse post. Mas desde já quero deixar claro que piadas ou montagens ou vídeos que não necessariamente seguem a um padrão e que constroem humor e descontração fazem parte desse universo que estamos chamando de zueira. O Brasil, aliás, tem uma forma muito específica de lidar com humor na internet, os próprios caras do Meme Factory já perceberam isso, ou seja, a zueira é mesmo nossa e ninguém tasca.


O principal fator que fez essa expressão de humor tão importante foi que ela foi a única forma eficiente de usar ironia como discussão política nessa eleição (e pelo menos em muitas). Ironia é, sem dúvida uma das formas de crítica social mais celebradas, justamente por ter a capacidade de ser ácida mas divertida ao mesmo tempo. Nos EUA, por exemplo, isso já é uma realidade. Shows como o Saturday Night Live, que fazem esquetes inteiros sobre assuntos e notícias recentes, entre elas com política, e sites como o The Onion, de notícias-sátira, são formas estáveis e aceitas culturalmente. No Brasil, isso não rola. A grande mídia acaba se isentando dessa responsabilidade não só no humor, mas também no jornalismo, que em grande parte acaba escolhendo um lado, mas querem mostrar imparcialidade. Com exceção de revistas como Veja e Carta Capital, de lados bem definidos, poucas mídias no país vão fundo em posicionamento.

E, é bom dizer: ainda bem. Crítica social através da mídia, principalmente a partir do humor, apesar de ser algo que precisa passar a acontecer, não deve ser feito irresponsavelmente e requere muita habilidade. Imagine só o Zorra Total fazendo o Weekly Uptade, ou o Danilo Gentili tentando comentar sobre jogos políticos como o Colbert. Não sei vocês, mas eu prefiro não. Nesse caso, acaba sobrando para a internet.



O mais interessante é ver como a zueira aproximou o eleitor, ao menos o que já que se encontrava no Facebook, Twitter e/ou WhatsApp, do interesse pelo assunto e acabou por simplificar a política. Esse meme de cima, um dos mais recorrentes no período e que você deve ter visto em sua timeline, é uma prova disso. Pra quem não sabe, o meme tem sempre características que quem quer que seja adiciona seu toque e distribui. O meme Tenso usa a aproximação da imagem, a imagem você seleciona. O meme da Nana Gouveia você precisa daquela espefícica foto dela e de um fundo trágico, a partir daí sua criatividade que manda. No caso do meme dos precidenciáveis você escolhia um tema e tinha que adequar as respostas a uma às repetitivas coisas que cada candidato dizia. Ou seja: pra entender e participar do meme, você precisava também entender, mesmo que de forma bem superficial, o que cada um dos candidatos representava.



O resultado direto disso foi o crescimento que os candidatos nanicos tiveram na mídia esse ano. Todo ano os candidatos que porcentagem de uma casa ou menos das intenções era simplesmente descartado do cenário, e mesmo nesse ano foi, quando apenas 4 candidatos apareceram no Jornal Nacional (ainda tentando entender o critério usado para selecionar Everaldo, mas ok). Mas, a partir do momento que a internet começou a mostrar simpatia por Luciana e Eduardo, principalmente, a mídia começou a abrir os olhos para outros candidatos. A partir daí, quem tinha destaque era não quem tinha campanhas melhores ou mais dinheiro, mas justamente quem se destacasse, pra bem ou pra mal. Levy Fidelix, por exemplo, mesmo sendo quase zero sua influência nas urnas, quando fez declarações homofóbicas no meio do debate virou o centro das atenções no dia seguinte, enterrando sua campanha de vez.

Depois de Marina mudando de ideia, Dilma querendo dizer o que não disse, Luciana Solitária, Eduardo sendo fofo no Twitter, Bonner sendo Bonner, Candidatos sendo elenco do Chaves e piadas sobre aerotrem, água, cocaína, privatização, maconha, não ter nada a ver com isso, aparelho excretor, papéis de tema, urna e até um romance fictício de Luciana e Eduardo (TEM FANFIC!!!), fica evidente que o jovem brasileiro, que foi por mundo tempo acusado se ser ignorante para a política, percebe muito melhor o significado das representações políticas e dá muito mais atenção a eventos e discursos que ocorrem, provando que o gigante aparentemente ainda está acordado, mesmo que ainda um pouco grogue.

Num momento em que todos decidiram se apegar a seus posicionamentos, com uma votação tão apertada, parece que a tendência mudou de zueira para brigas. Natural que aconteça, mas é preciso entender que levar a sério um assunto e criticá-lo não são necessariamente a mesma coisa, e, pelo contrário, que as duas coisas são completamente independentes, sendo a segunda a que deve ser o que guiar nosso pensamento daqui para frente, seja qual for o presidente.