13 agosto 2014

Bembé do Mercado

O propósito desta postagem era pra ser publicada em maio, mas estávamos na fase de remontagem do blog. Fazem 3 meses que o blog voltou, porém deixei pra o Mês #3 Cultura para ser mais coerente.

Dia 13 de maio em
Santo Amaro
Na Praça do Mercado
Os pretos celebravam
(Talvez hoje inda o façam)
O fim da escravidão
Da escravidão
O fim da escravidão
Assim diz Caetano Veloso na canção "13 de Maio", conterrâneo de Santo Amaro - Bahia. Em muitos lugares esta data de suma importância passa despercebida, porém nesta cidade, desde a 1889 (um ano após a Lei Áurea) é comemorada fortemente.

Santo Amaro da Purificação, Terra de Dona Canô, Caetano, Maria Bethânia, como normalmente é chamada, não se restringe somente à isso (muito menos ao que se mostrou no Domingão do Faustão, no quadro Dança da Galera). Possui mais encantos artísticos, culturais e históricos do que se imagina.

Fundada oito anos depois da fundação de Salvador (1557), a cidade sempre foi e é um reflexo de tudo que ocorreu (e ocorre) no Brasil. Para se entender este país, precisa-se entender a Bahia, para entender a Bahia, precisa-se entender o Recôncavo Baiano e para se entender o Recôncavo Baiano, precisa-se entender Santo Amaro.

Participou da ascensão e domínio da cana-de-açúcar; foi o local em que se fez a Ata de 2 de Julho para a Independência da Bahia; grande relevância na abolição e resistência à escravidão; teve metade da população dizimada pela epidemia da cólera; sofreu as devastadoras consequências da Indústria Moderna com a fábrica de chumbo; enorme influência na Ditadura Militar, movimentos sindicalistas e comunistas do Brasil; e hoje vive o caos da educação, saúde e segurança pública, como a maior parte das cidades brasileiras.

Mesmo a Lei Áurea não concebendo melhorias na vida dos escravos, o valor de liberdade já é motivo de festa. Exatamente este sentimento que o Bembé do Mercado passa: estar livre. E neste ano, comemorar os 125 Anos de Afirmação da Religiosidade e Cultura Negra.
Foram 6 dias de festa, com apresentações puramente regionais. Vários grupos de capoeira; maculelê (uma luta misturada com dança que se utiliza bastões metálicos); samba de roda, chula, mascarados e grupos de dança afro; palestras e debates; e no encerramento de cada noite, candomblé, na propriedade da palavra, na rua. O único candomblé de rua em todo o país.
Além da liberdade e a culto aos orixás, dá oportunidade de sintetizar toda a cultura, semeada desde a chegada dos povos negros vindos da África, que se misturou com os indígenas e portugueses.


E a maior tristeza é saber que este caos na gestão pública do Brasil, está tentando dissolver aos poucos essa cúpula cultural, destruindo todo seu patrimônio histórico. As pessoas não abrem os olhos para o que está se deixando para trás.Valorizar todo bem que seja orgânico é o primeiro passo para se viver melhor em conjunto. Precisa-se de globalização e estamos vivendo isto. Porém, uma globalização que não valorize somente aquilo que é mais rico economicamente.