26 março 2012

Resenha - Jogos Vorazes

Jogos Vorazes (The Hunger Games)
Direção: Gary Ross
Paris Filmes

Nada melhor para uma produtora de filmes que ter nos colos uma saga adolescente de livros para adaptar, certo? Esse tipo de filme tem gerado bilheterias estrondosas, o que dá um bom dinheiro a estas produtoras, e também garante o dinheiro de amanhã, já que elas geram também outros filmes potenciais, além de vender horrores para canais de TV e direitos autorais. Jogos Vorazes, que estreou 23/03 aqui no Brasil (sim, esta resenha está um pouco atrasada), é mais um filme dessas banais sagas adolescentes. Ou melhor, não, não é! A diferença está justamente no adjetivo: de banal, Jogos Vorazes não tem nada. O enredo, baseado no livro homônimo de Suzanne Collins, já é de bom proveito. Ele conta a história de um mundo futuro pós-apócatiptico em que a sociedade norte-americana se reconstrói, agora como Panem. Panem é governada com despotismo pela cidade Captiol, que tinha 13 distritos ao redor dela, cada um com uma função econômica. Em um tempo não tão distante da história contada, o 13º distrito se rebela, e é destruído pela capital. De forma a intimidar os outros 12 distritos que sobraram, inspirada no mito do Minotauro, Capitol prepara todos os anos os Jogos Vorazes, em que 2 adolescentes de cada distrito (24, no total) são forçados todos os anos a se digladiarem em transmissão nacional até que só um ganhador saia vivo. Há de se considerar que é um material muito mais interessante que os de Harry Potter, Percy Jackson ou Crepúsculo, já que incita uma crítica social fortíssima para um público adolescente. E, ao menos no filme, isso se mostra ainda mais interessante, criticando com ferocidade a desigualdade social, a indústria cultural em seu todo e, principalmente, a manipulação através do marketing e da política. Para toda essa crítica, o diretor usou os aspectos do filme como artifícios, e não só como acessórios como estamos acostumados. O figurino e a direção de arte, por mais que muito mal criticados, mostram um disfemismo sobre aspectos equivalentes da nossa sociedade, e a fotografia (essa, elogiada pela crítica) dá a visão conturbada de um espectador perante a tudo aquilo, talvez representando a visão da protagonista Katniss, interpretada muito bem pela Jennifer Lawrence. Aliás, está aí outro aspecto muito interessante do filme: em vez  um elenco com rostos bonitos e potencial de astros, foram escolhidos jovens já conhecidos pelo público e com notáveis atuações.
Não é tudo que dá certo em Jogos Vorazes: em alguns momentos a violência é maquiada com excesso e em outros a produção de efeitos não é lá muito bem sucedida, mas o que torna o filme tão bom é, acima de tudo, o empenho de tornar um modelo plastificado em algo com conteúdo.